As bioanálises dão os melhores parâmetros para ter um solo saudável e prolongar sua produção, rumo à sustentabilidade
Para começar a pensar em saúde do solo, lembrando que no clima tropical a atividade biológica é muito maior do que no clima temperado, a proteção promovida pela cobertura vegetal é fundamental e deve ser estimulada de maneira positiva, já pensando na produção futura. Porém, não se pode superestimular “colocando” muito calor, o que incorre em perda de água, prejudicando em médio prazo essa própria cobertura.
Entendendo isso, é hora de pensar no potencial produtivo, na adubação ou correção de solo, para melhorar a performance produtiva. Antes, contudo, o produtor deve ponderar a viabilidade de uma ação mais incisiva: vale ou não a pena. Atualmente, o acesso a uma boa análise de solo é muito fácil. Várias empresas a fazem, assim como universidades.
A análise química apura o potencial de nutrição do solo. Devemos entender o impacto da adubação na terra como o impacto dos microrganismos no rúmen da vaca. É o mesmo sistema. O rúmen é uma extensão do solo, por assim dizer. Tem sua parte viva e precisamos fornecer nutrientes para poder mantê-la. Essa parte viva é quem vai disponibilizar, por meio de uma interação com as plantas, os nutrientes prontos para a vegetação absorver
Sabendo disso, dessa vida da terra, não podemos mais nos basear só em uma análise de solo, simples, química e convencional, para tomar uma decisão. Esse tipo de leitura não concebe a matéria orgânica presente. Ela até diz quanto existe dessa matéria por grama de solo, mas não diz se está ativa ou morta. Assim ficamos sem conhecê-la e isso faz toda a diferença.
Quem nos dá essas informações são as bioanálises. Elas mensuram o potencial de ativação da biota do solo. Revela qual percentual daquele índice medido na análise química traz biota ativa e até quanto ela pode alcançar se fizermos as devidas correções ou adubações. Uma bioanálise fala juntamente com uma análise química e nos diz até onde podemos ir.
Por exemplo: ao pegarmos uma análise que mostra 1kg de boro por hectare, imediatamente saberemos o quanto devemos aplicar de cálcio, pois sua relação (cálcio com boro) deve ser de 100 para 1, segundo literaturas adjuntas a William Albrecht e Rudolf Steiner. Uma base de correlação de nutrientes muito boa com o solo é fundamental. De qualquer forma, isso pode ficar por conta dos técnicos.
Então sabemos que o primeiro passo é pedir ao técnico responsável todos os índices, a porcentagem de matéria orgânica, cálcio, magnésio, potássio, fósforo, enxofre, zinco, cobre, ferro, manganês, silício (se conseguir), cobalto, molibdênio, etc. Depois transformar tudo isso em quilos por hectare, porque normalmente os técnicos trabalham com outras unidades que, aos olhos do produtor, tornam-se complexas. Na verdade, algumas fórmulas simples e uma boa noção de química conseguem transformar esses dados, simplesmente, em quilos por hectare.
Feito isso, temos de atentar para algumas relações. Não dá para padronizar como uma coisa só, pois cada solo tem um comportamento. Porém, a grosso modo, dá para dizer que ferro tem de estar próximo do manganês e nunca com níveis baixos, nunca um muito acima do outro. Normalmente, deveríamos começar pelo enxofre. Nosso solo se comporta melhor com certos óxidos, sulfatos, etc. Então, o enxofre é muito importante e deve estar próximo dos índices de fósforo. Seria muito ruim a gente começar pela adubação fosfatada sem trabalhar o enxofre em conjunto.
Organizando tudo isso, é sabido que o zinco tem de estar em 10% do fósforo, nesse raciocínio de inter-relações, o que torna mais óbvia a correção do solo de maneira mais dinâmica. Já o cobre sempre deve estar na metade do zinco. Atenção para esses níveis! Não podemos tê-los em 0, lá na análise, que é a mesma coisa que nada.
Feito isso, podemos chegar na relação cálcio com magnésio. Um solo começa a ter boas respostas quando ela está acima de 2,5 para 1. Temos de ter mais cálcio que magnésio, porém, o ideal seria trabalhar com proporções de 3 até 5 para 1, dependendo da área e da intenção produtiva do lugar. Junto com isso arrasta-se a ideia de que o boro tem de estar com uma relação com o cálcio de 1 para 100.
Toda vez que elevamos o cálcio temos de atentar para possível falta de boro. Nossos solos são extremamente carentes de boro. Poucos prestam atenção nisso. O boro é o primeiro elemento que vem no metabolismo de absorção das plantas, na formação dos seus metabólicos. Todas essas proporções são bem-resolvidas com uma regra de três simples.
É importante lembrar que ter boa noção da fertilidade do solo, não elimina um profissional da área em assistência frequente, pois sempre há reposições a serem feitas a cada safra, diante de cada tipo de solo. Além de conhecer a situação local, temos de saber se os índices se adequam, por exemplo, a um solo arenoso. Entender se a biota do solo aguenta preservar o nível de cálcio e fósforo.
Toda terra tem seu limite, lembrando aqui daquele ditado que diz que “a diferença entre remédio e veneno é a dose”. Uma superadubação também é prejudicial, desequilibra demais as cargas e constrói um ambiente impróprio. Na contrapartida, o desequilíbrio e falta de nutrientes também destrói e inviabiliza a produção. Logo, a adubação de maneira nenhuma é excluída. Apenas precisa contemplar as relações.
Um ponto importante também é entender que subir índices de presença de matéria orgânica é complicadíssimo, mesmo considerando que cada solo tem uma capacidade. Trazem ambientes diferentes e que com simples dicas de adubação não se consegue aumentar o volume de matéria orgânica total. Sair de 1% e ir para 2% de percentual é um trabalho quase que inviável. Não vale a pena.
A ferramenta mais amiga que temos é explorar ao máximo a biodiversidade botânica, da flora e do solo, sua parte vegetal, sua cobertura. Quanto mais tipos de espécies diferentes tivermos, principalmente forrageiras, maior a chance de trabalhar a dinâmica de nutrientes dessa terra. Algumas plantas extraem substâncias diferentes. Contudo, uma acaba compensando a outra na ciclagem, e também no fornecimento.
Todos os solos soltam nitrogênio, por isso que as aplicações de adubo e nitrogenados dão bastante resposta; lembrando que, nitrogênio não pode ser utilizado demasiadamente, pois ele aumenta muito o consumo de carbono pelo solo, que é o item número 1 para entendimento de um solo fértil, principalmente em ambientes mais hostis, quando as doses de nitrogênio devem ser repensadas.
Sobre tudo isso, a bioanálise mostra os limites de cada solo, direcionando composições e quantidade de cada item da adubação. Há algumas bioanálises que conseguem projetar a capacidade produtiva da terra, medindo sua respiração, pela microbiota. Conhecida a quantidade de nutrientes, conseguimos saber os custos da adubação necessária, de modo mais assertivo e econômico.
Diante desse conhecimento, para a atividade que a recebe ou modelo de exploração, às vezes concluímos que a propriedade se tornou inviável (para seu caixa). Isso significa que outras estratégias devem ser adotadas. Não devemos hesitar para entrar com parcerias de terceiros que tenham condição de tocar aquela adubação necessária. Talvez o arrendamento para usinas, por exemplo, possa ser uma boa opção. Elas têm mais crédito para trabalhar esses aspectos e fazer a devida operação. É triste, mas é sábio.
Artigo publicado na edição de novembro de 2021 da revistanelore. Leia a edição completa AQUI.
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