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Foto do escritorPor revistanelore

Práticas essenciais para o melhoramento genético de bovinos de corte

Trata-se de procedimentos que rapidamente farão a diferença dentro da propriedade, em termos de incremento da produtividade e consequente lucro

Em seu podcast, a zootecnista Patrícia Eloísa Tormen fala sobre o melhoramento genético de bovinos de corte de forma prática.

A partir dessa edição, a revistanelore passa a transcrever os “podcasts” da zootecnista Patrícia Eloísa Tormen, veiculados semanalmente no Spotify e Google Podcast. Tormen é formada pela UDESC, Campus Chapecó (SC), técnica de campo do Programa de Melhoramento Genético Embrapa Geneplus desde 2015, nas raças Nelore, Senepol e Caracu.


Com atuação em Rondônia, Acre e Amazonas, a zootecnista concilia ainda as funções de técnica de Registro Genealógico da Raça Senepol e direção, como sócia, da empresa Grotão Agronegócios, com sede em Ariquemes (RO).


Em 2022, iniciou um projeto que há muito tempo tinha vontade de colocar em prática: fazer um “podcast” sobre melhoramento genético de bovinos de corte. O propósito é levar aos pecuaristas produtores de genética e os de rebanhos de cria, como fazer um bom uso da ferramenta “melhoramento genético”.


Por Patrícia Eloísa Tormen

Para o criador que deseja participar de um programa de melhoramento genético ou mesmo que esteja dando seus primeiros passos em um deles, aqui estão algumas ações iniciais e importantes. Vale reforçar que a ideia é: para reduzir custos e maximizar resultados, o básico bem-feito é sempre o mais acertado a se fazer.


A primeira medida é obter um controle efetivo do rebanho. Para tanto é preciso que os animais estejam identificados com uma numeração única e individual. Essa identificação pode ser feita por meio de tatuagem, marca de fogo, brincos ou chips eletrônicos. Um software deverá realizar toda a escrituração zootécnica.


Aqui, falamos de uma série de eventos na rotina de cada animal que serão inseridos em softwares para posterior remessa às associações de raças e instituições ou empresas que tabulam as informações para seus respectivos programas de melhoramento genético.


Normalmente, as fazendas que trabalham com a seleção de gado PO já estão mais adiantadas neste processo. Porém, para os rebanhos comerciais, caso o pecuarista ou gestor ainda não o faça, é importante realizar o controle fino o quanto antes.


E quais seriam esses eventos para registro?


A partir do momento que as matrizes estão identificadas é possível proceder o controle dos acasalamentos, sejam eles por monta natural, Inseminação Artificial (IA com ou sem protocolos de IATF) ou Fertilização in Vitro (FIV). Esses dados serão necessários na hora dos apontamentos de nascimentos.


Necessário determinar que também estes bezerros, logo após o parto, devem receber identificação da mãe e individual, de modo a saber quem é quem, de onde vêm e como se desenvolvem. Os dados coletados no desenvolvimento é que darão as informações de produção, do desempenho zootécnico.


Um outro controle importante se dá na reprodução. O primeiro passo é definir uma estação de monta na fazenda, algo de suma importância que traz inúmeros benefícios, principalmente o de avaliar os animais dentro de grupos contemporâneos (lotes de animais com no máximo 90 dias de diferença de idade).


Essas observações geram comparações de desempenho, permitindo identificar os melhores de cada grupo, sob as mesmas condições de criação, ambiente, manejo e nutrição. Por isso a estação de monta definida é importante, pois ela concentra os partos e facilita o manejo da fazenda, permitindo a formação dos grupos contemporâneos.


Além disso, uma contribuição fundamental, é obter o desempenho da própria fazenda, no que diz respeito, por exemplo, a índices de concepção (fertilidade), parição e performance dos reprodutores. A estação bem definida ainda permite que a propriedade se organize para oferecer a melhor nutrição em cada categoria animal.


E finalmente, permite a rápida identificação dos animais ou até de famílias que são improdutivas, aquém da performance desejada. Observa-se isso pelo comportamento individual no ganho de peso (maternal, desmama e sobreano), precocidade no desenvolvimento e nas dificuldades de obtenção de prenhez em fêmeas multíparas, primíparas e novilhas.


Em resumo, a estação de monta bem definida, pela concentração de partos, permite a formação dos grupos contemporâneos e, por mensurações, a identificação do que é melhor e daquilo que não se quer na fazenda (que não dá lucro e até gera prejuízo). A partir do momento que padronizamos a estação de monta, o planejamento de todos os processos permite controlar o desempenho de todos os animais do rebanho, efetivar o ciclo pecuário mais curto e ter retorno mais rápido do capital envolvido.


É importante frisar que essas diferenças de performance entre os animais ocorrem por seus potenciais genéticos diferentes e também pelo ambiente fornecido a eles. Se todos são criados na mesma estação, ano, sexo e regime alimentar, estão dadas as condições para observar os melhores, os mais rentáveis.


A formação de grupos contemporâneos se dá então ao nascimento. Neste momento, forma-se lotes por mês de nascimento dos bezerros, categoria de matriz (primíparas, secundíparas e multíparas). Estes animais, normalmente são manejados juntos no mesmo lote do nascimento até a desmama. E após esse período, são separados por sexo, montando-se novos lotes, de machos e fêmeas, o ideal é sempre preconizar manter animais com no máximo 90 dias de diferença.


O quarto ponto a ser observado são as mensurações. Cada programa de melhoramento tem seu plano de trabalho e deve ser seguido com rigor. As pesagens preconizadas (peso ao nascer, peso aos 120 dias, peso na desmama e peso no sobreano) cada uma em uma determinada fase da vida dos animais, são fundamentais no processo.


O peso ao nascer deve ser tomado nos primeiros dias de vida de cada cria, no momento em que se cura o umbigo, quando identifica-se o animal e sua mãe. Essa característica é importante, por exemplo, para evitar a incidência de partos distócicos no rebanho.


A pesagem aos 120 dias (pesagem maternal) é muito importante porque a partir do desenvolvimento do bezerro se conhece a habilidade maternal da mãe, sua capacidade de aleitamento e de cuidar da sua cria. Mães ruins não são bem-vindas, pois não fizeram seu trabalho a contento.


A pesagem de desmama, é uma medida bem comum, realizada em praticamente todas as fazenda de cria. Por esse motivo, ganha acurácia com maior rapidez em relação às outras características nos sumários. Nesta pesagem, alguns programas de melhoramento aproveitam para fazer uma análise visual dos animais. O que se quer entender qual é composição do peso dessas crias, observando musculosidade, ossatura, precocidade e ainda características funcionais, como correção de aprumos, posicionamento de umbigo e padrão racial.


Outra observação importante é a relação desmama. Pesa-se os bezerros e posteriormente suas mães. Essa proporção de peso de bezerros desmamado pelo peso da sua respectiva mãe quer 50% como ideal: vaca de 450kg, cria desmamada de 225kg. Algumas fazendas ainda medem o Perímetro Escrotal (PE), já dimensionando a precocidade reprodutiva.


Na sequência vem a pesagem no sobreano, etapa final do período básico de seleção. Nos lotes de machos, além do peso, mede-se PE e faz-se nova avaliação visual. Neste momento é possível identificar quais machos são candidatos a reprodutores. Nos lotes de fêmeas, durante a pesagem, além da pesagem e avaliação visual, já são definidas as candidatas à reposição e até mesmo, futuras doadoras da fazenda para serem multiplicadas.


Durante esse processo de coleta de dados, é importante observar, dos animais que foram descartados, quais os motivos que levaram a esta decisão, para que essas características morfológicas ou produtivas tenham prioridade de correção nos acasalamentos, além da definição de descarte das matrizes e touros que produziram estes animais descartes.


A última etapa é o envio das informações. Coletados os dados métricos e as observações fenotípicas é preciso atender as datas específicas definidas por cada programa de melhoramento genético. Eles serão processados e devolvidos aos criadores em forma de Diferenças Esperadas de Progênie (DEPs).


Essas informações de rebanho que retornam, permitem que as ações de correção dos rumos do melhoramento sejam muito mais efetivas, ao longo das gerações. Além das DEPs, temos os gráficos de tendências genéticas para todas as características, comparando a sua fazenda em relação à média geral de todas as fazendas mensuradas pelo programa.


É nesse momento que a seleção conhece seus erros e acertos. Obviamente, todo este processo tem um custo, mas muito maior que o custo de fazer, pode ser o RISCO de não fazer, perdendo espaço e liderança de mercado, na comercialização dos seus produtos, sejam reprodutores, matrizes ou até mesmo, você pecuarista de rebanho comercial, seus bezerros.


O básico bem-feito encurta o ciclo pecuário e traz sucesso em médio e longo prazo.


Reportagem publicada na edição de fev/mar de 2022 da revistanelore. Leia a edição completa AQUI.


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