Selecionador paulista de Pardo-Suíço Corte trabalha uma volta por cima, mais que oportuna em função de horizontes mais que positivos para a pecuária bovina.
Apesar do ciclo de baixa nos preços praticados pela bovinocultura de corte, especialistas apontam que, na verdade, o momento é ideal para investir em uma série de itens do projeto; às vezes, até de refazê-lo. E alguns produtores também estão partilhando essa visão. José Lopez Fernandez Netto é um deles, pecuarista titular da Agropecuária São Lourenço, com sede em Itapeva (SP).
Ele retomou o entusiasmo pela seleção do gado Braunvieh (Pardo-Suíço Corte), em 2018, e agora, contrariando seus pares, está ainda mais animado com o negócio. Os motivos são dois. O primeiro, como médico antenado com uma série de estudos sobre saúde humana que são publicados em todo o mundo, pelo de a carne bovina ganhar novo status na alimentação humana, já em um futuro bem próximo.
Oportunidades no horizonte
O outro, decorre de uma análise e projeção do especialista em pecuária bovina de corte, Roberto Barcellos, profissional e empresário que possui longas jornadas na indústria, consultoria de fazendas e também no varejo da carne. Segundo ele, “começa a se abrir no mercado um grande espaço para o ressurgimento das raças taurinas europeias continentais”, em função das suas características básicas e comuns.
Para Barcellos, “há uma grande necessidade no mercado de projetos que tragam equilíbrio à produção, modelos que beneficiem todos os elos da cadeia produtiva de forma mais igualitária”. Em outras palavras, a fazenda com eficiência, alcançando suas métricas de produtividade; a indústria com carcaças de maior rendimento e peso; e o consumidor interno ou externo, com variabilidade de produto (características de qualidade distintas).
Modelos animais que já existem
Isso demanda animais com mais ganho de peso e rendimento de carcaça, maior conversão alimentar, volume muscular e “frame”, todos fatores que se encaixam perfeitamente nas raças taurinas continentais. “Tais animais terão um custo de desmonte menor, reduzindo o valor do quilo de carne no gancho”, afirma o especialista.
A questão é uma operação matemática. Bovinos de mesmo peso, portanto de preços equivalentes para a indústria, oferecem lucratividade muito diferente quando o rendimento de carcaça for superior entre 4 e 10%. “Ganha o produtor, ganha o frigorífico”, diz. É mais músculo com menos ossos e menos vísceras.
Para Barcellos, este é um alinhamento muito mais equilibrado do que os atuais programas específicos de qualidade de carne. “Eles apresentam perda de rentabilidade de todos os lados. Encarecem tudo para todo mundo, inclusive para o varejo que faz a ponte até o consumo”, explica. “Eu vejo claramente, sobre essa realidade, a existência de dois mundos bem distintos. Em um, produtores que vão buscar eficiência máxima; em outro, o ápice da excelência”. Para o entrevistado, os projetos que ficarem entre esses dois mundos terão de se repensar, pois “ficarão em meio a sérios riscos”.
E é justamente na remodelagem desses projetos que entra a grande contribuição das raças taurinas continentais. Todas as características para esse novo momento estão expressas em suas respectivas genéticas. “É quase que uma luva bem vestida”, reforça.
Atenção ao mercado
Fernandez Netto compartilha da mesma avaliação de Barcellos. Ele é selecionador de Braunvieh há duas décadas. Já militou na raça presidindo sua associação paulista e esteve entre grandes importadores de sua genética dos EUA, Canadá, México, Alemanha e Suíça. O criatório da São Lourenço até brilhou em grandes exposições em São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul.
Animais de seu criatório integram a base de muitos outros rebanhos brasileiros de seleção. Seus touros passam por coleta de sêmen e também trabalham na cobertura a campo, em vacada zebu ou mesmo cruzada. Um desses grandes consumidores dessa genética é Higino Hernandes, pecuarista de Rio Verde de Mato Grosso (MS), na Fazenda 3 Muchachas.
Ele tem uma pecuária de ciclo completo e faz cruzamento industrial. Além das bases Nelore, Brahman e Tabapuã, possui um rebanho de fêmeas F1 Pardo-Suíço Corte para fazer o three cross com Santa Gertrudis e Bonsmara. Ele abate 1,5 mil animais/ano, terminados em pasto e em semiconfinamento. Os machos alcançam 21 arrobas de peso entre 24 e 30 meses de idade.
Já as fêmeas estão prontas aos 22 meses com peso médio de 16 arrobas. Sua produção consegue preço de “boi china”, já que é rastreada, e premiação do “Novilho Precoce”. Tais bonificações só são atribuídas a carcaças de qualidade, portanto, a carne diferenciada. Hernandez destaca que as crias ½ sangue da raça suíça são superiores às three cross.
Ele é cliente da São Lourenço há 25 anos e testemunha que um reprodutor Pardo-Suíço trabalha em média por 7 estações de monta em regime de campo, iniciando aos 2 e seguindo até os 9 anos de idade. A estação na 3 Muchachas ocorre na primavera. Com creep feeding a partir dos 5 meses de idade, desmama machos com 300kg e fêmeas com 285kg, em média. Ele calcula que cada cria consumiu 50kg de suplementação.
O Pardo-Suíço Corte da São Lourenço
Esses reprodutores que brilham nesse verdadeiro campo de provas da produção de carne bovina nacional tem como base uma genética escolhida criteriosamente por quase três décadas. Tudo começou quando Eduardo Benime, tio de sua esposa Maria Isabel Sguario Fernandez, apresentou-lhe 900 novilhas 1/2 sangue Pardo-Suíço em uma fazenda.
Conta que foi paixão à primeira vista. Desde então, Fernandez Netto investiu pesado, inclusive correndo o Brasil e o exterior atrás de conhecimento sobre a raça e experiências de criação. Participou de várias importações, sempre visando encontrar animais apropriados para o trabalho no cerrado brasileiro.
“São animais de frame moderado, costelas bem arqueadas, umbigo corrigido e de carcaça profunda. Além disso, queremos leite para criar bem os bezerros, temperamento dócil e precocidade tanto produtiva quanto reprodutiva; por isso, precisam converter bem a dieta e responder com velocidade no ganho de peso”, explica o selecionador.
Contudo, em 2013, o plantel da São Lourenço passou para Daniel Vieira Tacla, da Fazenda Repal, no município de Pien (PR). Foram todas as fêmeas e um acervo de sêmen importado e até embriões. A boa notícia ficou por conta de que o novo titular manteve os mesmos rumos de seleção do rebanho. Em 2018, com o retorno de Netto à seleção, sacou um lote de novilhas para compor uma nova base, porém com a mesma linha de trabalho.
Os tourinhos da Repal são recriados e comercializados na São Lourenço, ainda uma forte vitrine. Parte deles, contudo, trabalha na produção de carne em uma propriedade de Tacla, em Campina Grande do Sul (PR), por meio do cruzamento industrial. Além de selecionador de Pardo-Suíço Corte, o pecuarista possui um núcleo de Nelore PO, também para comercializar genética.
Tacla trabalha a raça europeia desde 2008 e se tornou seu entusiasta. Ele viu nas suas características um gado ideal para se trabalhar no Sul do Brasil, agregando produtividade e rusticidade. Ele destaca ainda a fertilidade, precocidade e habilidade para criar bem seus bezerros, em função do bom volume de leite das fêmeas.
Os acasalamentos são 100% dirigidos, sempre buscando refresco de sangue por meio de linhagens distintas. No momento, a grande estrela do melhoramento é o touro Wielland, importado da Alemanha pelo conceituado criatório da Genética Aditiva, do Mato Grosso do Sul. “Estão chegando animais bastante revigorados e prometem mais um salto no que já era muito bom”, afirma Tacla.
A carne bovina em prol da saúde humana
Como bom médico, Fernandez Netto está o tempo todo preocupado com a saúde humana. Ele sempre foi contrário “às pesquisas pouco científicas, difamando a carne bovina, que a mídia abraçou e divulgou sem a devida profundidade, o que rendeu inúmeras oportunidades comerciais a terceiros”. Ocorre, porém, que inúmeros estudos no sentido contrário e outras descobertas estão se multiplicando.
Este, aliás, é o segundo motivo de sua retomada na produção de genética bovina. As novas descobertas, em unidades de pesquisa de todo o mundo, estão começando a chegar no Brasil. Vão de características específicas do leite de certos bovinos a remédios que trabalham para levantar a imunidade e combater doenças como câncer. “Tudo está na carne”, diz o médico.
“Já de alguns anos é utilizada com muito sucesso, como um verdadeiro tratamento médico, a chamada dieta Cetogênica, baseada em proteínas e gorduras de origem bovina, para a recuperação de doenças crônicas como obesidade, diabetes, Alzheimer, certas causas de convulsões e inclusive alguns tipos de câncer”, explica. É a famosa “Carnivore Diet” ou “Dieta Carnívora”. “Isso vai mudar a visão de consumo da carne”, conclui.
Braunvieh tem mais de 100 anos de Brasil
A raça é proveniente das pastagens mais altas dos Alpes suíços, onde inicialmente se desenvolveu. Há registros arqueológicos desses animais de 4.000AC. Originalmente são bovinos de dupla aptidão, mas suas virtudes para a pecuária moderna os levaram às especializações leiteira e carne. Por suas características se adaptam bem aos trópicos.
Entre essas habilidades, o Pardo-Suíço Corte faz o trabalho de cobertura em regime de campo de modo mais efetivo que boa parte das raças taurinas continentais. Sua pelagem e mucosa escura conferem-lhe boa capacidade de tolerância ao calor e convivência com os carrapatos. Além disso são excelentes ganhadores de peso, precoces, bons conversores de dieta e apresentam carcaça volumosa.
Suas crias são muito cobiçadas na produção de carne pelo cruzamento industrial tanto F1 quanto no three cross. As fêmeas ½ sangue são ideais para trabalhar como receptoras por sua grande habilidade maternal. Boas de leite, criam muito bem seus bezerros, desmamando-os pesados. Trabalhos com ultrassonografia de carcaça confirmam seu alto potencial genético para AOL, Marmoreio e EGS.
Agropecuária São Lourenço
Tel.: (15) 9 9775-7176 | Itapeva - SP
Comments